foto: divulgação |
Reportagem: GERLLANY AMORIM
Nos
143 municípios do Estado do Pará, com exceção de Belém, Ananindeua e
Barcarena, a frota de motocicletas é superior a dos demais veículos. De
acordo com Carlos Valente, coordenador de Planejamento do Departamento
Nacional de Trânsito (Detran), até meados de 2017, estima-se que os três
municípios também entrem na lista e contabilizem essa frota de motos
superior. No município de Santa Bárbara, por exemplo, 90% da frota de
veículos são motocicletas. De 2008 até hoje, esse crescimento foi de
600%, segundo o Detran.
A preocupação com o aumento massificado desse tipo de veículo no trânsito, coloca em foco a questão da segurança. De
acordo com o diretor Geral do Hospital Metropolitano de Urgência e
Emergência, Paulo Czrnhak, os números de veículos crescem
proporcionalmente ao número de acidentes registrados. Só no HMUE, pelo
menos 12 atendimentos à vítimas de acidentes envolvendo motocicletas são
registrados diariamente, isso equivale a uma estimativa de um acidente a
cada duas horas. De acordo com o Hospital, só no ano passado, 4.441
atendimentos para vítimas envolvidas em acidentes com motocicletas foram
realizados. "Esse
é um problema muito grave que deve ser observado com consciência pela
sociedade. Conscientização e educação no trânsito são palavras-chave
para evitar esse tipo de acidente que traz um custo altíssimo para o
Governo no tratamento dessas vítimas. Esses que provocam muita dor tanto
para os familiares, quanto para vítimas sobreviventes que precisam
enfrentar longos períodos de recuperação, muitas vezes com sequelas
parciais ou definitivas.", aconselhou.
O
diretor explicou que todo paciente que dá entrada no HMUE vítima de
acidentes com motocicleta, é classificado como paciente Politrauma, independente do
nível de gravidade. Lá existe uma equipe de cinco especialistas que
realizam o procedimento com realização de tomografias, raio-x ou
ressonância magnética e os exames laboratoriais. Depois então é
diagnosticado se é paciente grave ou gravíssimo, para ser submetido às
cirurgias e se for o caso, dar entrada da Unidade de Terapia Intensiva
(UTI). "Este é um tratamento de custo altíssimo, que além da permanência
no leito, seja de UTI ou enfermaria, o paciente ainda permanece em
tratamento pós-alta médica, com acompanhamento por fisioterapeuta,
fonoaudiólogos, etc. Ou seja, algo que muito bem poderia ser evitado com
um pouco mais de prudência e atenção desses condutores, acaba por
tomando leitos de pacientes das demais patologias. É preciso ter
consciência.", explicou Paulo Czrnhak. "Exatamente hoje, no HMUE, 75% dos leitos de UTI estão ocupados por vítimas de acidentes no trânsito", disse.
O
despachante técnico de empresa aérea, Tiago Neto, trabalha no aeroporto
de Belém na madrugada, mas por dois anos e meio um acidente de moto o
deixou afastado do trabalho. Foram cinco cirurgias na perna, com a
necessidade de aplicação de sôro em média quatro vezes por semana. "No
início eu pensei que não fosse mais poder fazer nada do que gostava na
vida, como por exemplo a musculação, o que me causou um princípio de
depressão. Na época eu era Modelo de passarela, participava com
frequência de desfiles e isso também me abalou muito. Agora não posso
mais desfilar pois uso palmilha no sapato para compensar a diferença que
fiquei no fêmur.", relatou. O mototaxista Diogo Oliveira também foi
vítima de um acidente em sua motocicleta, quando voltava de uma
universidade onde tinha ido deixar a esposa. "Eu vinha passando quando
um homem abriu a porta do caminhão sem prestar atenção. Pegou todo o meu
lado esquerdo e eu fiquei muito machucado", contou. Os dois concordam
que a maioria dos acidentes são causados por conta da imprudência dos
motoristas em geral. "É preciso saber respeitar. Dar a preferência. E
não essa bagunça que está em Belém", opinou Diogo.
MAIS RIGOR NA HABILITAÇÃO - Carlos
Valente, do Detran, questiona o modo como é feita a habilitação desse
condutor para o trânsito. "O condutor da categoria A, é pouco cobrado
durante o processo de habilitação. Enquanto hoje em dia, o condutor que
está se habilitando para dirigir carro, precisa ser submetido a testes
mais rigorosos, com aulas sobre sinalização, direção, inclusive com
aulas no simulador para estar apto ao trânsito, o condutor da moto só é
avaliado a questão do equilíbrio em provas dentro de um espaço restrito.
Isto acaba por colocar no trânsito, motociclistas não tão rigorosamente
preparados", ressaltou. O coordenador garantiu que o Detran tem
participado de reuniões a nível nacional, onde tem cobrado para o que
exame para a habilitação de motociclistas seja mais rígido.
NÚMEROS - Segundo
dados do Detran, de janeiro a julho de 2012 foram registrados 6.026
acidentes envolvendo motocicletas em todo o Pará, onde 311 vítimas
faleceram. Somente em Belém, nesse mesmo período, houve registro de
1.602 acidentes com 15 óbitos. De acordo com Carlos Valente, de cada 10
vítimas de acidentes no trânsito, oito eram condutores ou passageiros de
motocicletas, e a cada 15 vítimas, cinco delas eram pedestres que foram
atropelados por motociclistas. Ainda de acordo com Detran, a frota
atual registrada no Pará é de 1.410.000 veículos, destes, 733 mil são
motocicletas.
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